PALAVRAS SINGULARES

São palavras jeitosas, formosas, inteiras.

Sem sentido, sem juízo, sem valor.

Faceiras, brejeiras, até corriqueiras.

Palavras intensas, carentes ou contentes.

Indecentes, inocentes, contingentes.

Trazem riso, pouco siso, alegoria.

Palavras de fé, de magia, de folia.

Fazem chorar, descontrolar e lamuriar.

Falam de amores, de dissabores,

exaltam as dores.

Palavras alegres, cintilantes, efusivas.

Verdadeiras, sorrateiras, benzedeiras.

Palavras que excitam, incitam, ousam sonhar.

Assim como falam, se calam.

Suplicam, replicam, explicam.

Palavras perdidas, inventadas...

De enfeite, deleite, um falsete.

Palavras tão belas, palavras de fera.

São palavras singulares,

São palavras de mim.

domingo, 28 de junho de 2015

Adágio

ADÁGIO

Posso falar do vento
Que geme na garganta do frio
Posso falar da lua
Roubando os segredos da escuridão
Posso falar dos desejos
Desatino que esfacela a razão
Posso falar das lembranças
Que esgotam as reservas da solidão

Posso falar de tudo...
Do tempo, da lua e do vento
São velhos acordes d´uma melodia
Adágio que desconcerta o silêncio

Só não falo mais de amor
Você jamais entenderia
Foste incapaz de sentir
Deixaste tudo pra trás...

Amanheceste em outros braços
Enquanto meu peito anoitecia

terça-feira, 23 de junho de 2015

Poema fugidio

POEMA FUGIDIO

E o poema me escapa, fugidio...
Nada o comove nesse instante
Solto no vácuo, misantropo ao léu

A inspiração, uma cortesã indócil
Esnoba a sedução das palavras
Pro desespero do inócuo papel


         E assim findam-se as horas desse dia

             Nem de longe, o ar da graça da poesia

sábado, 20 de junho de 2015

Poeminha amarrotado

POEMINHA AMARROTADO

Entre as linhas dum verso enviesado
Costurei um poeminha amarrotado
Na bainha incerta do papel riscado

Sem métrica, entremeio alinhavado
Rimas tortas, pontos remendados
Em retalho solto, mal arrematado



sexta-feira, 5 de junho de 2015

Chove lá fora

CHOVE LÁ FORA

Ao despertar na janela
Vejo o dia amanhecer sem cor...
Chove lá fora.
Chuva miúda, chuva graúda
Encharca o cinza borrado
Invade o olhar ensimesmado
Tragado por sua pletora...
Na rua não há burburinho
Passarinho hiberna no ninho
Embalado pelo canto das águas.
Um vento balança a folhagem
Espalha no ar a friagem
Paisagem outonal...
O barulho na vidraça
Acorda os sonhos de ontem
Preguiça pede passagem.
Cá dentro exala na sala
Aroma de café e aconchego
Desperta a alma arredia...
Inspiração ensaia um sorriso
Com o peito agora aquecido
Rabisca pra chuva uma
Poesia.