REFÉM
Aquele desconhecido sequestrara seus desejos e seu
prazer.Sentia-se refém de seus escritos; bebia suas palavras como se fossem
absinto, forte e embriagador.
Lia e via-se nos versos, nas rimas e nas linhas. Em
cada cena, estava lá. Imaginava, sentia.
Tocava-se com sofreguidão; seu corpo queimava, ardia
e pulsava. As entranhas em brasas, como um vulcão iminente.Arrancava de si
gozos múltiplos, intensos e insaciáveis. Gemia no silêncio da alcova, em um ritual
solitário de prazer.
Sorvia aquelas palavras pervertidas, indecentes.
Queria sentir na carne a pressão, a pujança dos gestos desenhados nos textos.
Desejava sentir a dor, escorrer em sangue rubro
misturado ao fluido quente que brotava de dentro de si.Seus toques eram fortes,
ansiosos; os dedos já não satisfaziam. Usava artefatos, inventava, na ânsia
febril de se dar os prazeres sugeridos nas palavras banhadas de luxúria, de
devassidão.
Naqueles momentos, perdia a identidade; era
messalina, vadia, submissa ou promíscua, mulher, amante, mas, sobretudo, uma
fêmea despida de pudores, de razão. Tão somente escrava dos instintos e do
prazer.
Palavras plurais para uma sensação plural.
ResponderExcluirHá desconhecidos que se fazem tão presentes... Eis aí um escritor de sorte... Que desperta da fêmea os mais puros instintos...
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