PALAVRAS SINGULARES

São palavras jeitosas, formosas, inteiras.

Sem sentido, sem juízo, sem valor.

Faceiras, brejeiras, até corriqueiras.

Palavras intensas, carentes ou contentes.

Indecentes, inocentes, contingentes.

Trazem riso, pouco siso, alegoria.

Palavras de fé, de magia, de folia.

Fazem chorar, descontrolar e lamuriar.

Falam de amores, de dissabores,

exaltam as dores.

Palavras alegres, cintilantes, efusivas.

Verdadeiras, sorrateiras, benzedeiras.

Palavras que excitam, incitam, ousam sonhar.

Assim como falam, se calam.

Suplicam, replicam, explicam.

Palavras perdidas, inventadas...

De enfeite, deleite, um falsete.

Palavras tão belas, palavras de fera.

São palavras singulares,

São palavras de mim.

terça-feira, 8 de maio de 2012


 ÉTICA E CIDADANIA NAS RELAÇÕES DE INCLUSÃO
 
(By Me) 



Qualquer discussão sobre questões da inclusão social nos remete a valores subjacentes e à interrogação dos seus fundamentos, trazendo portanto, a perspectiva da ética, enquanto uma reflexão crítica sobre os valores que orientam as ações e relações de indivíduos e grupos no contexto social.
Incluir, nos afirma Aurélio é “compreender, abranger, conter em si, envolver, implicar”. Estar incluído é fazer parte, pertencer juntamente com os outros. Quando buscamos a origem etimológica do termo ética, encontramos a referência a “ethos”, morada do homem, espaço construído pela ação humana que transcende a natureza e transforma o mundo, exigindo-lhe uma significação específica. O ethos designa assim, o espaço da cultura do mundo transformado pelos seres humanos. No ethos manifesta-se um aspecto fundamental da existência humana: a criação de valores. Valorizar é relacionar-se com o mundo, atribuindo-lhe um significado, sem ser indiferente.
A cidadania implica uma consciência de pertença a uma comunidade e se estende a todos os indivíduos na sociedade, sem discriminação de raça, gênero, credo religioso, classe, necessidades. Pertencer a uma comunidade implica em uma relação estreita entre seus membros. Estar incluído implica responsabilizar-se, partilhar de uma responsabilidade que não tem caráter apenas individual, mas coletivo.
A desigualdade se instala à medida que deixo de reconhecer o outro como alguém que entra na constituição de minha identidade, “alter” e passo a tratá-lo como “alienus”, o alheio, alguém com quem não tenho nada a ver, resultando em uma forma específica de alienação: a desconsideração do diferente com quem se estabelece a comunicação, a convivência, a construção partilhada de cada um e de todos no mundo.
Uma relação social fundamental é aquela caracterizada pela relação entre sujeitos: eu-outro, ou seja, simetria. Nesse contexto, temos o princípio ético que é o reconhecimento do outro. Não posso dizer que sou eu, se não sou reconhecido pelo outro e se não o reconheço como alguém como eu. Não como idêntico a mim, mas diferente e igual. O contrário de igual não é diferente, é desigual e tem uma conotação social e política. A afirmação de identidade se dá na possibilidade da existência da diferença e na luta pela superação da desigualdade.
Nesse sentido, pensamos em uma ética voltada para o outro como prioridade sobre o eu- a ética da alteridade. Éticas reducionistas levam à discriminação, enquanto que a ética da alteridade leva a uma prática de respeito e reverência, pois esvazia o indivíduo do preconceito. A ética da alteridade condena a segregação, a exclusão, os pré-conceitos e pré-juízos, e contempla o acolhimento do outro, a solidariedade, a diversidade e a justiça, não apenas como um discurso retórico, mas como atitude moral de comprometimento com o diferente, incluindo nesta classificação a nós mesmos, e consequentemente com o totalmente outro. Resumindo, é uma ética da alteridade empática que estabelece relações de inclusão.

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