PALAVRAS SINGULARES

São palavras jeitosas, formosas, inteiras.

Sem sentido, sem juízo, sem valor.

Faceiras, brejeiras, até corriqueiras.

Palavras intensas, carentes ou contentes.

Indecentes, inocentes, contingentes.

Trazem riso, pouco siso, alegoria.

Palavras de fé, de magia, de folia.

Fazem chorar, descontrolar e lamuriar.

Falam de amores, de dissabores,

exaltam as dores.

Palavras alegres, cintilantes, efusivas.

Verdadeiras, sorrateiras, benzedeiras.

Palavras que excitam, incitam, ousam sonhar.

Assim como falam, se calam.

Suplicam, replicam, explicam.

Palavras perdidas, inventadas...

De enfeite, deleite, um falsete.

Palavras tão belas, palavras de fera.

São palavras singulares,

São palavras de mim.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

CRÔNICA: MORRER DE (SEM) AMOR.
(Betty Lucchesi)


Um belo dia acordou especialmente feliz. Olhou em volta e percebeu que o mundo estava mais bonito. O sol mais brilhante, os pássaros mais melodiosos, as flores mais perfumadas, as pessoas mais sorridentes e ao olhar-se no espelho viu, estampada em seu rosto, a imagem do amor!
Sim, era o amor que enfim chegara, com sua beleza, com seu esplendor, com sua energia e seu encanto. O amor, tão esperado, tão sonhado, cantado em versos e prosas estava ali, dentro de si. E o mundo se fez seu.
E entregou-se àquele amor sem medos, sem pudores, sem ressalvas. Profundamente, intensamente, exatamente como o amor pede para ser amado: em toda a sua plenitude.
Cantou, dançou, gargalhou. Planejou, fantasiou, extasiou-se.  
Era a vida, pulsante, vibrante, generosa brotando dentro de si com a força que só o amor proporciona. E viveu.
E quando o mundo parecia seu, quando era dona da situação, sentiu uma dor aguda. Estancou e ouviu uma voz gelada sussurrando ao longe: acabou-se. De repente o sol foi encoberto por uma nuvem cinza, carregada e um tremor percorreu seu corpo inteiro. Olhou em volta e nada viu. Só uma dor inexplicável consumindo suas entranhas. Um pranto desesperado, angustiado brotou incontrolavelmente. Estava no meio de um turbilhão agitado, que tirava seu fôlego e minava suas forças. O pior era aquela ignorância, sem explicações, sem motivos e sem consolo.
Só o barulho ensurdecer do silêncio que furava seus tímpanos e estrangulava seu peito.
Até que a verdade açoitou-lhe a face como um chicote impiedoso: vivera uma mentira.  Amara sozinha, estivera sozinha, fora usada e descartada. Sonhara um sonho só seu. O resto, foi ilusão.
Desde então, tudo se perdera: o amor, a paixão, os sonhos, a esperança, a beleza e a poesia. Só restara angústia, tristeza e solidão.
Mergulhara em um abismo profundo, escuro e gelado. Os dias se arrastavam insípidos e sombrios. Definhava lentamente. Já não chorava, pois o pranto secou.
Então, em um desses dias sombrios e frios, ela chegou. Marcada pelo peso de sua missão, silenciosa, indelével, misteriosa, tão certa como talvez a única coisa nesse mundo dos mortais.
Ela a olhou e disse: - você demorou, ao que a outra com um olhar cansado, respondeu: - não minha querida, cheguei exatamente na hora certa, determinada. Tu é que desejou antecipar-me a chegada. Estás pronta?
-Estou cansada, muito cansada. Não sei se tenho forças para acompanhá-la.
- Não te preocupes. Trouxe comigo mensageiros que foram enviados para auxiliá-la nessa viagem. Eles te carregarão no colo. Relaxe.
- Antes de partirmos, diga-me: como alguém pode morrer de amor?
Fez-se um silêncio interminável, até que a visitante retrucou:
- Engana-se amiga; não se morre de amor, mas pela falta dele. O amor não mata, ao contrário, o amor é a própria vida. Os homens é que o matam a cada dia, com seu egoísmo, sua indiferença, sua maldade; com seu desprezo, sua deslealdade, suas mentiras e sua estupidez.
- Mas eu não matei o meu amor! Por que estou morrendo?
Tão calmamente como chegou, e de modo definitivo, a outra respondeu:
- Mataste sim, o teu amor próprio. Ao amar o outro mais que a si mesma, acabaste por cometer suicídio.
Vamos?


As Sem - Razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
(Drummond)










































Um comentário:

  1. Ouso dizer que o amor eterno é uma mentira e, para aqueles que me contestam, vou mais longe e digo que a própria vida, dada à sua efemeridade, também é... Daquelas de perna bem curtinha... Mas a crônica ficou ótima!

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