PALAVRAS SINGULARES

São palavras jeitosas, formosas, inteiras.

Sem sentido, sem juízo, sem valor.

Faceiras, brejeiras, até corriqueiras.

Palavras intensas, carentes ou contentes.

Indecentes, inocentes, contingentes.

Trazem riso, pouco siso, alegoria.

Palavras de fé, de magia, de folia.

Fazem chorar, descontrolar e lamuriar.

Falam de amores, de dissabores,

exaltam as dores.

Palavras alegres, cintilantes, efusivas.

Verdadeiras, sorrateiras, benzedeiras.

Palavras que excitam, incitam, ousam sonhar.

Assim como falam, se calam.

Suplicam, replicam, explicam.

Palavras perdidas, inventadas...

De enfeite, deleite, um falsete.

Palavras tão belas, palavras de fera.

São palavras singulares,

São palavras de mim.

sábado, 16 de março de 2013

REFÉM




La Décadanse by Serge Gainsbourg on Grooveshark

 REFÉM


Aquele desconhecido sequestrara seus desejos e seu prazer.Sentia-se refém de seus escritos; bebia suas palavras como se fossem absinto, forte e embriagador.
Lia e via-se nos versos, nas rimas e nas linhas. Em cada cena, estava lá. Imaginava, sentia.
Tocava-se com sofreguidão; seu corpo queimava, ardia e pulsava. As entranhas em brasas, como um vulcão iminente.Arrancava de si gozos múltiplos, intensos e insaciáveis. Gemia no silêncio da alcova, em um ritual solitário de prazer.
Sorvia aquelas palavras pervertidas, indecentes. Queria sentir na carne a pressão, a pujança dos gestos desenhados nos textos.
Desejava sentir a dor, escorrer em sangue rubro misturado ao fluido quente que brotava de dentro de si.Seus toques eram fortes, ansiosos; os dedos já não satisfaziam. Usava artefatos, inventava, na ânsia febril de se dar os prazeres sugeridos nas palavras banhadas de luxúria, de devassidão.
Naqueles momentos, perdia a identidade; era messalina, vadia, submissa ou promíscua, mulher, amante, mas, sobretudo, uma fêmea despida de pudores, de razão. Tão somente escrava dos instintos e do prazer.

2 comentários:

  1. Palavras plurais para uma sensação plural.

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  2. Há desconhecidos que se fazem tão presentes... Eis aí um escritor de sorte... Que desperta da fêmea os mais puros instintos...

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