PALAVRAS SINGULARES

São palavras jeitosas, formosas, inteiras.

Sem sentido, sem juízo, sem valor.

Faceiras, brejeiras, até corriqueiras.

Palavras intensas, carentes ou contentes.

Indecentes, inocentes, contingentes.

Trazem riso, pouco siso, alegoria.

Palavras de fé, de magia, de folia.

Fazem chorar, descontrolar e lamuriar.

Falam de amores, de dissabores,

exaltam as dores.

Palavras alegres, cintilantes, efusivas.

Verdadeiras, sorrateiras, benzedeiras.

Palavras que excitam, incitam, ousam sonhar.

Assim como falam, se calam.

Suplicam, replicam, explicam.

Palavras perdidas, inventadas...

De enfeite, deleite, um falsete.

Palavras tão belas, palavras de fera.

São palavras singulares,

São palavras de mim.

terça-feira, 17 de abril de 2012





UM CAOS ORGANIZADO
COISAS DA BAHIA

(By Me)







Inicialmente Feira do Sete; depois Água de Meninos e após um incêndio na década de 60, tornou-se a feira de São Joaquim.
São Joaquim não é apenas uma das maiores feiras livres da América Latina, caracterizada por um ensurdecedor barulho comercial, um trânsito caótico de vendedores e compradores em meio a muita confusão; é uma forma de sociedade distinta, organizada e rica nos seus aspectos humanos e culturais.

Turistas encantados, um vai-e-vem de pessoas, carrinhos-de-mão repletos de mercadorias, galo, bode, pássaros diversos, barracas com artesanatos pendurados, bancadas carregadas de frutas de diversas cores compõem o rico cenário popular da Feira de São Joaquim. Desde colas que tudo grudam até pós que conquistam a pessoa amada, os produtos da feira encantam e fascinam os visitantes com seu caráter místico e religioso.
Nas ruas com nomes peculiares, tipo rua do côco, da farinha, das cerâmicas, o porto da cana e o largo do quiabo, os visitantes encontram de tudo, desde os produtos de primeira necessidade até as receitas para tirar mau-olhado, limpeza de casa, atrair um amor; contra inveja, para ganhar dinheiro, prender homem mulherengo ou manter potência sexual.
No microssomo de São Joaquim convivem todas as crenças, todas as cores de gente, de diversas profissões, do caminhoneiro ao barraqueiro, passando por ambulantes, cozinheiros, vendedores de lanches, açougueiros e prostitutas; uma infinidade de gente concentrada nas diversas ruas e esquinas da feira. Tem fruta, verdura, tem peixe, carne, tem santo e tem orixá, tem panela de barro e de ferro; tem perfume, tem vestido chique, de chita, tem cordel, tem “causos”, tem história, tem música, tem cesto, tem cesta, tem erva que levanta até defunto, tem pimenta malagueta para alegrar os baianos e aqueles que passam por ali. Tem rádio comunitária, faxinaço e lavação. Tem baiano de verdade, emprestado e até forasteiro. Tem segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo... é assim a Feira de São Joaquim, de tudo tem um pouco e todo dia é dia feira.
O ambiente da feira de São Joaquim evoca a colonização do Brasil, cujo processo deu origem a essa gente mestiça, resultante do antagonismo entre ricos e pobres, negros e brancos, patrões, empregados, bairros elegantes e favelas, favorecendo a construção da identidade nacional, particularmente a baiana, com seus problemas sociais, sua cultura, seu folclore. Traz lembranças saudosas do passado, o aconchego de gente simples, seu calor humano. Seu contingente humano é rico e fascinante. Pessoas que sabem cantar e encantar, mesmo com todas as dificuldades que enfrentam diariamente; que fazem da luta uma festa.






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